29 de janeiro de 2007

A DIVULGAÇÃO FEITA PELA REDE GLOBO

Agora a Rede Globo começou uma campanha "Vá ao teatro". Atores renomados como Paulo Autran e Bibi Ferreira aparecem recebendo os aplausos e carinho do público no camarim. As frases que são ditas aos atores são mais ou menos assim: "O teatro nos faz pensar" ou "Obrigada pela emoção que me proporcionou" e coisas desse tipo, seguidas de abraços e puxação de saco.
Eu paro para pensar: Será que isso faz algum efeito? Ou será que isso só ajuda a deixar a situação como está: as pessoas vão ao teatro para verem ao vivo o ator da televisão.
De qualquer forma, não posso deixar de sentir uma pontinha de esperança de que isso contribua de alguma maneira para a formação de público. Uma rede de televisão como a Globo não é de maneira nenhuma ignorada, porém não é ignorada pela classe média e elite, que anota na cartilha tudo o que a Globo diz. Mas, se pelo menos essas pessoas comparecerem ao teatro, já é uma batalha ganha.
O ideal seria que todas as camadas sociais tivessem acesso. Muita gente nunca foi ao teatro, por falta de oportunidade e principalmente de dinheiro. É preciso haver uma reforma na política cultural, para que pessoas de todas as classes possam ir ao teatro, com projetos de formação de público; para que o preço dos ingressos diminuam e para que as leis de incentivo possam contemplar quem realmente precisa. Assim, se os atores puderem receber um salário, poderíamos não cobrar pelo ingresso.

E eu continuo sonhando com isso...

O QUE É PRECISO PARA FAZER UMA PEÇA

Fazer teatro no Brasil é muito difícil. A maioria dos grupos não conta com patrocínio ou leis de incentivo. Um grupo realmente precisa QUERER MUITO que sua peça entre em cartaz.
Começando com a equipe necessária: atores, diretor, cenógrafo, figurinista, criador da trilha sonora, criador da luz, operador de som, operador de luz, preparador corporal, preparador vocal, cenotécnico, bilheteiro. Se houver algum tipo de luxo, entra também um produtor e um assessor de imprensa.
Depois da peça pronta começa a batalha por dinheiro: festas, vaquinhas, permutas, tentativas de patrocínio. E é claro, contamos também com o dinheiro da bilheteria, que normalmente fica em torno de 10,00 por pessoa (Sempre há a política de meia entrada no teatro, mesmo se a pessoa não for estudante). E esse dinheiro só serve para cobrir os gastos. Ou seja: Não se recebe (os atores) nenhum salário se não houver patrocínio ... Isso se o cenógrafo, figurinista e criador de luz e som forem bem bonzinhos e não cobrarem nada também...
Agora vamos para as contas de produção de uma peça simples:

- Aluguel do teatro (mensal): 3.000,00
- Diretor: 10% do valor da bilheteria
- Direito autoral: depende, pode ser 10% do total dos lucros
- Operador de luz e de som (por fim de semana):300,00
- Aluguel de equipamento de som e luz (mensal):300,00
- Assessoria de imprensa (por temporada): 2.000,00
- Cenário: 1.100,00
- Figurino ( pano e mão de obra): 150,00
- Adereços de cena: 100,00
- cenotécnico: 150,00
- Bilheteiro: 100,00
- Arte gráfica( programa, cartaz, ingresso, banner): 150,00
- Colocação do banner: 130,00
- cabos, fiação, parte elétrica: 70,00
- Alimentação da equipe técnica (semanal): 70,00
- Gráfica: 350,00
- Transporte de cenário: 140,00

E POR AÍ VAI...

Isso quer dizer que, para uma peça ficar em cartaz por um ou dois meses, é desembolsado mais ou menos 7.000,00 (!!!!!!!!!!)

Agora me respondam como é possível que grupos sem patrocínio sobrevivam dessa maneira?
É preciso muita vontade, muito amor e principalmente, muito trabalho.
E ainda temos que contar com a falta de público. Aconteceu duas vezes comigo até hoje e a sensação não é nada agradável. Sua peça está lá, divulgada em todas as revistas, na internet, no rádio... e mesmo assim tem dia que ninguém vai assistir...
E o preço dos ingressos? Uma peça de um grupo desconhecido não pode cobrar mais do que 20,00 a entrada inteira, pq. deixa de ser acessível. Porém, enquanto tentamos deixar o ingresso barato para o público comparecer, os atores acabam pagando para trabalhar.
Será que desse jeito é possível viver de teatro no Brasil? Poucos podem contar com as leis de incentivo, que acabam sendo muito fechadas aos grupos renomados ou aos artistas da televisão.

Mas mesmo com tudo isso, há alguma coisa que nos move, uma coisa que posso chamar de AMOR À ARTE.

26 de janeiro de 2007

O GRANDE TESTE PARA A GRANDE EMISSORA DE TELEVISÃO

Um dia recebo uma ligação que penso ser sonhada por muita gente: Uma grande emissora de televisão me convidando para fazer um teste, para ficar nos arquivos. Ou seja, se algum diretor fodão precisasse de atores novos para algum trabalho, talvez ele visse minha cara naquele vídeo e me chamasse.
Lá fui eu. Nervosa, suando muito, me sentindo desajeitada e imprópria àquela situação. Nem a roupa eu sabia qual vestir, devido às restrições de cores e modelos... Só me sobrou uma camisa vermelha nada a ver comigo. "Não pode roupa azul, branca, preta, marrom e estampada" disse a moça, além de me passar uma lista enorme de restrições quanto ao texto que eu usaria: "Precisa ser uma briga, uma discussão, um diálogo, que tenha começo, meio e fim, e também não pode ser um texto de teatro clássico e nem uma poesia, nem citação etc..."
Nos dois dias que se seguiram me vi desesperada procurando um maldito texto que coubesse em minha boca e que fosse nos padrões pedidos.
Voltando: lá fui eu. Cheguei num estúdio e fui recebida por um cara que era o camera-man do teste, e ele muito simpático tentou me deixar a vontade. Mas o suadouro e a sensação de inadequação continuavam. Só conseguia pensar que não tinha decorado o texto direito, que ele estava mal estudado e que nunca tinha visto uma gordinha naquelas novelas, a não ser a Cláudia Gimenez.
Depois de esperar mais de meia hora, chegou a minha vez. A mulher muito simpática me colocou sentada no braço de uma cadeira(!!!!) e me falou para não olhar para a câmera (só no comecinho do texto) e sim para um boneco desenhado numa folha de caderno que nem boca tinha!! Por um momento quase dei risada daquele desenho que parecia ter sido feito por uma criança de cinco anos de idade. Bom, respirei fundo e me concentrei no meu "parceiro de cena" e comecei a falar o texto. Logo em seguida ouço um sonoro "CORTA"!!! Meu sangue gelou. Ela, sempre simpática, me perguntou o porquê de eu olhar o tempo todo nos olhos do desenho, sem deixar de me dar uma dica de que na vida real ninguém olha o tempo todo para o companheiro. (eu pensei: eu olho, mas tudo bem) Argumentei que no teatro era fundamental olhar nos olhos do parceiro para haver o chamado JOGO. Ela argumentou de novo dizendo que aquilo não era teatro.
Segunda chance: Fui até o final do texto. Ela me olhou e veio arrumar meus cabelos e eu não podia me mexer um centímetro para não sair do foco e para não me despentear. Aproveitou para me dirigir e pediu mais naturalidade.
Terceira chance: a essa altura eu já estava toda suada, desesperada, querendo ir embora dali, me perguntando por que raios eu nunca tinha feito um curso de vídeo. Não consegui ir até o fim sem ouvir o temido "CORTA"!!!!!!!!! Agora o problema era que eu não poderia olhar para baixo, pq. senão a câmera não pegava meus olhos. O "olhar para baixo" deveria ser dois centímetros abaixo da linha do horizonte. (alguém tem uma régua, pelo amor de Deus???)
Quarta chance: comecei e "CORTA"!!!!!!!!! Ela disse: "Você precisa olhar para a câmera assim que eu disser "ação", porque um diretor olha no máximo 5 segundos cada fita e se você não olhar, sua fita vai para o lixo" (Nossa, que incentivo!)
Quinta chance: Desesperada para acertar, comecei a falar o texto e acabei engasgando. Mas como não podia falhar de novo, engoli seco e continuei. Estava tão engasgada que meus olhos começaram a lacrimejar e mesmo assim falei o texto todo. Aquilo não tinha fim. Eu querendo tossir e falando o texto. Enfim, aquelas lágrimas serviram a meu favor, já que estava interpretando uma briga de casal.
Acabou. O câmera-man me elogiou, dizendo que a última passada tinha sido cheia de verdade. (mal sabia ele que a verdade era que eu estava engasgada e desesperada) e a mulher simpática me disse: "É. Mais ou menos. Qualquer coisa a gente te liga, ok?
OK!
Por acaso alguém já me viu na novela? Pois é, então acho que meu teste não deu muito certo.

23 de janeiro de 2007

O QUE ENCANTA E O QUE DESENCANTA

ME ENCANTA
Acreditar que a arte pode melhorar a vida das pessoas.
Poder viver mil vidas, como se fossem minhas.
Poder dizer alguma coisa ao mundo.
Burburinho da platéia.
Adrenalina antes de entrar em cena.
Estudar um personagem. Falar, pensar, andar, reagir como ele.
A concentração dos atores antes de uma peça começar.
Sentar para me maquiar e me vestir como o personagem.
O público fiel.
A energia que pode construir ou destruir um espetáculo.
Emocionar-me com uma cena.
Conseguir emocionar alguém com uma cena.
A beleza de uma cena, uma música, uma dança.
Ver a peça ficando pronta.
A união que move todas aquelas pessoas (atores, diretor, técnicos, cenógrafo, figurinista) para um projeto em comum.
A troca de energia com a platéia.
A coisa viva. O aqui e agora. O momento que é único.

ME DESENCANTA
A falta de público.
O preço exorbitante dos ingressos.
A falta de costume do brasileiro de ir ao teatro.
Cancelar a peça por falta de público.
A dificuldade em conseguir entrar nas leis de incentivo, que são poucas.
Produzir uma peça.
A dificuldade em arrumar patrocínio.
A premissa: "Se não tem gente da novela eu não vou ao teatro".
Os baixos, ou na maioria das vezes, nenhum salário.
Pagar para trabalhar.
Ouvir: Você faz teatro? Mas o que faz realmente da vida?.
O preconceito: "ator é tudo viado e atriz é tudo puta".
Outro preconceito: ator é tudo hippie e vagabundo.
Alguém perguntar: "Você não vai fazer novela"? (como se fosse fácil e obrigatório).

VIVENDO E ENSINANDO A JOGAR

Há um ano e meio atrás comecei a dar aulas de teatro para crianças e adolescentes. Mal sabia eu que me apaixonaria por isso. Entrar no mundo deles é uma loucura. A criança tem uma capacidade incrível de criar e jogar. E o melhor de tudo é que elas são inocentes o suficiente para não ter as limitações da vergonha que um adulto pode ter.
Primeiro, graças ao mestre Alexandre Mate, eu e mais dois amigos começamos com duas oficinas de teatro para crianças de baixa renda. O resultado foi muito legal: ver o desenvolvimento social e emocional daquelas crianças era muito gratificante. Nascia uma paixão.
Depois, pelo projeto da prefeitura "São Paulo é uma escola", que visa ocupar o tempo das crianças com atividades que desenvolvam corpo e mente, comecei a dar aulas numa escola municipal na Vila Olimpia. Era uma loucura. Mais de 100 crianças e adolescentes por semana, divididas por faixa etária, 5 vezes por semana. SOZINHA! Confesso que enlouqueci com a falta de disciplina deles e de experiência minha, mas me encantei com os pequenos criadores e com os adolescentes engajados e interessados em aprender teatro. Mas... como nem tudo são flores o salário era péssimo para a quantidade de trabalho e acabei saindo do projeto.
Logo depois disso, voltei as origens: comecei a ser assistente de professor na escola que aprendi a amar o teatro. Um lugar maravilhoso, muito sério e com embasamento psicológico e pedagógico. Tenho lembranças muito boas do meu tempo de aluna.
Comecei com três turmas: uma de 6 e 7 anos, uma de 9 a 11 anos e uma de 10 a 13 anos. Cada faixa etária possui diferenças incríveis e apaixonantes. As crianças menores requerem cuidados e muita psicologia. Os pré-adolescentes precisam de disciplina e liberdade, e os adolescentes só precisam de um incentivo para criar e aceitarem sua personalidade. falando assim parece simples, mas é muito mais complexo do que se imagina. Lidar com seres humanos, tentar mostrar valores, educar, agradar, divertir...
Mas os pequeninos... como me encantam. São mini pessoinhas, cheias de vitalidade e coisas para dizer. Além de ótimos criadores de histórias. E como são meigos!
Não há emoção maior do que vê-los crescer e vê-los no palco, como se tudo não passasse de uma grande brincadeira. Para eles o teatro é isso.

22 de janeiro de 2007

viver de arte - um inicio

Não sei no que dará esse blog...
Entrei na onda dos jornalistas da minha vida (são muitos!!!) irmão, pai e muitos amigos... Se todo jornalista precisa ter um blog (já ouvi essa frase de meus queridos!) talvez uma artista também precise. Ou queira...

Viver de arte!

Projetos, muitos. Dar aulas, dirigir uma peça infantil, atuar numa peça adulta, tentar ser assistente de professor na escola que me formei...Tenho muita coisa para falar para o mundo. Esse me parece o dever de um artista hoje em dia: gritar para uma sociedade que está quase ficando surda. Talvez alguém escute. Talvez o público compareça. Talvez vá embora no meio da peça. Talvez o espetáculo seja cancelado por falta de público, ou de verba. Mas eu quero poder falar! Mas mais do que falar, quero colocar poesia na vida das pessoas.
É dificil fazer a tal "Denúncia social" que todos os artistas pregam... Para mim, o papel do artista não é de maneira nenhuma jogar na cara da platéia o que está errado no mundo. Talvez seja dar um panorama do que está errado, mas nunca mostrar "como fazer" para aquilo virar certo. Senão vira aula ou lição de moral. E ninguém quer sair de casa para receber lição de moral. As pessoas precisam de um refresco na vida. E esse refresco pode sim conter uma denúncia, uma poesia, um riso. Não necessariamente uma peça precisa chocar, dar tapa na cara. Precisa fazer as pessoas sentirem alguma coisa. Qualquer coisa que a tire da inércia.
O refresco não está só no cinema ou na TV, minha gente! O teatro carece de público! O teatro morre sem o público.
Talvez o meu papel no mundo seja apenas trazer um pouco de alegria e poesia para a vida das pessoas que estejam interessadas... Ainda não descobri e vou morrer tentando.